13.10.12

Cobrar por conteúdo 'não é salvação'

3/10/2012 13h17 - Atualizado em 13/10/2012 13h28
Cobrar por conteúdo 'não é salvação', diz professor e pioneiro da web
Para Rosental Calmon Alves, jornalismo precisa de novas fontes de receita.
Empresas precisam se reinventar e 'não ter medo de errar', afirma brasileiro.

Darlan Alvarenga
Do G1, em São Paulo

A fragmentação das verbas publicitárias e a queda na circulação dos jornais impressos representam as “dores de parto de um mundo completamente novo”, que exige cada vez mais uma reinvenção por parte das empresas de mídia, sobretudo na busca de novas fontes de receita. A opinião é do professor da Universidade do Texas Rosental Calmon Alvez, que participou neste sábado (13) da 62ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol), que vai até a próxima terça (16), em São Paulo.

Pioneiro do jornalismo on-line no país, Alvez criou, em 1991, o primeiro serviço de notícias on-line do Brasil, que atendia a rede de corretores do mercado de ações no Rio de Janeiro, é diretor-fundador do Centro Knight para jornalismo nas Américas e presidente da Orbicom, uma rede mundial de Cátedras em Comunicação da Unesco.

Apesar de considerar que o jornalismo tradicional está em crise, o brasileiro é um entusiasta da revolução digital e acredita que a cobrança de conteúdo não é o único modelo de negócio sustentável para o jornalismo.

“Cobrar não é a salvação”, afirmou, no seminário “Jornalismo: qual será o modelo sustentável do futuro?”, que contou com a participação do presidente do El Pais, Juan Luiz Cebrián, e do jornalista Fernando Rodrigues, da ‘Folha de S. Paulo’.

“Criar uma linha de receita nova através de um tipo de cobrança é válido, mas não é uma coisa ou outra. É uma coisa e outra”, acrescentou, lembrando que muitos jornais nos Estados Unidos tentaram fechar o conteúdo nos anos 90 e, “se isso não prevaleceu foi porque não deu certo”.

Durante o debate foi discutido o modelo de negócio adotado pelo “The Ney York Times” e que está sendo seguido por diversos jornais como a “Folha de S. Paulo”, o “paywall’, em que parte do conteúdo é gratuita e outra parcela paga, de forma que o jornalismo possa ser financiado mais pelas assinaturas do que pela publicidade.

“Há espaço para tudo e acho, sinceramente, que o NYT conseguiu uma fórmula de deixar o pé dos dois lados”, avaliou Alves. “Mas desconfio que eles ganharam mais dinheiro parando um pouco a sangria da circulação do que com o dinheiro das assinaturas digitais. Esse esquema é bonitinho, mas é insustentável”.

'Jornal vai ser objeto de luxo'

O brasileiro destacou que o mercado de jornais impressos nos EUA e Canadá, em penetração de domicílios, vem diminuindo há 60 anos. “É como estar querendo se agarrar a algo que vai inexoravelmente diminuindo. O jornal em papel vai ser cada vez mais um objeto de luxo, e cada vez mais caro e difícil de vender”, disse.

O professor lembrou que o jornal impresso foi praticamente grátis nos Estados Unidos durante décadas e que as empresas lucraram muito nesse modelo, e acrescentou que ainda existem negócios deste tipo. “Não há nada errado em ser grátis, o negócio é fazer as contas”, diz Alves. Ele alerta, porém, que “não existe refeição grátis”. “Toda vez que você vê alguma coisa grátis é porque o produto é você” , destaca.

Entre as experiências de diversificação de receita nas empresas de mídia, ele citou a criação de departamentos de serviços de soluções digitais e de eventos, que ofereçam produtos além de notícias.

Empresa de mídia como empresa de tecnologia

"As empresas de mídia tem que assumir-se como empresas de tecnologia, ninguém é mais jornal, televisão, é uma plataforma tecnológica. Tem que descobrir novas linguagens e novas formas de fazer jornalismo, afirmou em entrevista, após o seminário.

Para o professor, não há como afirmar, neste momento, entretanto, qual é o melhor modelo para a sustentabilidade do jornalismo. “A forma como o jornalismo vai ser daqui a 10, 20 anos, não está definida. Mas para sobreviver o jornalismo precisa do empreendedorismo. Estávamos acostumados só a melhorar o que nós tínhamos, precisamos reinventar, criar coisa novas e não ter medo de errar”, concluiu.

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